Foto: Valmyr Ferreira
Por Ana Martins e Grazi Medrado
Já são quatro anos e dez temporadas. Foi outro dia mesmo. Foi ontem e ao mesmo tempo, amanhã. Essa relação com o tempo estabelecida de outra forma, sob outros saberes. Foi em 1944, 1995, 2017, 1835 e continua.
São dez temporadas refletindo sobre nossos fazeres, formas e tempos. No meio disso, uma pandemia que nos fez parar, repensar, caminhar os caminhos possíveis. Aos poucos, respeitando os tempos e os tempos dos nossos. Janelas se abriram. Aproveitamos para olhar a paisagem. Esse antes-agora-depois que é nosso.
E foi por essa janela que reencontramos o que nos motivou a chegar até aqui. Foi por essa janela que sentimos o vento quente que vem do Atlântico Sul. A quentura firme que sopra de Salvador até aqui. Pensamos nas pessoas que nos ajudaram a caminhar, pensamos nos que caminham há muito tempo, pensamos na Bahia. Foi de lá que buscamos, há quatro anos e dez temporadas, o Bando de Teatro Olodum. Rememoramos os ambientes sonoros que só “Cabaré da rrrraça” é capaz de nos dar. Passeamos pelas ladeiras íngremes das lembranças, e tocamos mais uma vez nossa história inspirada por eles. E pelos caminhos do Bando e de sua Terça Preta, nos movemos.
Dessa viagem trouxemos para mais perto nossa homenageada da 10ª temporada, na certeza de que a segundaPRETA foi germinada, semente lançada na terra também pelas mãos de Valdineia Soriano!
Val (que bom poder chamá-la assim), a menina criada num bairro de nome Liberdade. Essa mulher de timidez juvenil e beleza madura, que ao sorrir deixa os olhos miúdos. Uma atriz grandiosa e mestra na arte de ensinar, seja pela forma, olhar ou conduta. Valdineia nos educa e nos convida a não parar.
Aprendiz e também professora no Bando desde o início, há 31 anos, conheceu o teatro na escola, quando descobriu que poderia trocar a aula de geometria por atuação (que bom pra gente). E foi assim que ganhamos essa artista que carrega em 51 anos de vida, a experiência de contar o que viu através das personagens que construiu no teatro, cinema e televisão.
Foi no cinema inclusive que Valdineia Soriano foi eleita Melhor Atriz da 50ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, quando interpretou Margarida no longa “Café com Canela” dos diretores Glenda Nicácio e Ary Rosa. Um filme cheinho de afeto e amizade, em que Valdineia derrama emoção na gente.
Tão bom podermos compartilhar desse tempo-espaço-movimento de sua existência, viver esse macio e sereno que é construir prazeres sonhados antes de nós, por você e por nós. Você nos ajuda a imprimir sentido na caminhada. Nos conecta com a força ativa como só uma ancestral pode fazer, a memória do que ainda será.
Importante podermos continuar, porque disso também somos feitos.
Estamos em movimento. Quatro anos, dez temporadas, de volta de onde partimos. Estamos aqui, no agora, presente ancestral fabulando alegrias. Estamos e somos com essa honrosa homenageada, essa amálgama em expressão de ouro e beleza, e é com ela que vamos seguir.
Laroyê!