Foto: Juliana Rocha – Divulgação
Por Andréa Rodrigues
Imagine uma voz. Uma voz com tom de veludo, cor de vinho. A voz da Dona Léa é lindíssima assim. Pare um dia para ouvir atenciosamente uma de suas entrevistas, é possível ouvi-la por horas a fio. Poderíamos dizer para fecharem os olhos e absorver melhor a experiência, mas daí seria privar do sorriso firme com olhar doce que acompanha sua voz.
Ela é linda! Linda! E aqui queremos ressaltar que é no presente, em qualquer tempo ela É.
Linda!
Escreveu parte fundamental da história do teatro no Brasil. Escreveu seu nome no cinema. Fez uma palma de ouro sofrer ao não lhe pertencer. A mulher que se tornara uma das principais e mais importantes artistas deste país. A sua benção!
Aprendemos a pedir bênção aos mais velhos da família, e de onde viemos Dona Léa é família. Aquela parente de quem você morre de saudade, ainda que vejamos todos os finais de semana. É familiar a forma como atua, como se expressa, como luta, como fala, como se projeta no mundo. É familiar a forma como defende a arte e o fazer artístico. É linda e familiar.
Léa, que admirava Ruth, que admirava Léa. Que são admiradas por nós.
Que sensação boa essa de podermos falar e contemplar nossos mais velhos. Não tão “cara a cara” como gostaríamos, é verdade. Mas estarmos aqui, compartilhando a mesma existência depois de tantas marés, é de se vangloriar. É preciso celebrar sua consciência, altivez, e contribuição no caminhar de todas e todos nós. É parte de nosso compromisso saudar a dignidade de sua trajetória e a energia com que ainda hoje se dedica ao trabalho.
Léa, a menina que queria ser escritora. A mulher que mobilizou uma produção inteira e alterou roteiro de uma personagem na novela, para que ela fosse coerente com o que defendia. A quem admiramos de maneira íntima como só quem admira um dos seus pode fazer.
Carioca nascida na Praça Mauá, filha de Stela Lucas Garcia e José dos Santos Garcia, não é parte apenas da lembrança televisiva de um país, mas parte fundamental da nossa profunda memória, capaz de acender em nós imagens e poéticas em vários tempos e lugares.
Agradecemos por nos permitir estarmos juntas e juntos à você, agradecemos por nos ajudar a subir em palcos. Agradecemos à Senhora, Dona Léa, por ser gigante, por ser brilhante, por nos brindar sendo, Léa Garcia.
Andréa Rodrigues é atriz, dramaturga, roteirista e arte educadora. Integrante do coletivo segundaPRETA e da Cia.Bando, atuando em diversas frentes culturais e artísticas em BH. Como atriz atua em diversos trabalhos tanto no teatro como no audiovisual. Atualmente atua em salas de roteiro de diversos segmentos.