Por Zora Santos, Anderson Feliciano e Mário Rosa
Foto: Léo Pinheiro/C41 ESTÚDIO
A quarta temporada da segundaPRETA homenageia Ana Maria Gonçalves.
Na recepção desta escritora, pensadora e debatedora de coragem penso na forma que podemos recebê-la, no gesto que convida a estarmos juntas pra conversarmos, pensarmos e celebrarmos nossos avanços nesse mundo que parece insistir em se escrever como impasse e retrocesso.
Tropeçamos, mas continuamos os movimentos em constante invenção, pois é de sabor que também vivemos.
E seguindo a lógica das cerimônias do povo preto, a festa já começou. Não podemos parar, NÃO VAMOS PARAR.
Vem com a gente, Ana!
Exu mandou chamar. Serviremos nosso banquete lá na encruzilhada da segundaPRETA. Sente-se à mesa, compartilhemos desse momento aquilombadas.
É festa! Separamos nossas melhores especiarias e ervas, que aqui foram semeadas pelos nossos, para temperarmos o encontro.
Passado, memórias e o presente sempre atualizado inspiram a receita que segue o saber do meu corpo, a partilha de muitas vozes que me acompanham e a intuição que também me guia.
Estaremos lá: corações de manteiga, corpos-pimentas, palavras-gengibres, gestos-dendês, que em misturas geram aconchegos, ardências, achados, surpresas, reviravoltas e afinidades.
Passo a passo, começaria aquecendo uma panela de pedra, que me parece ser o que a presença dela causa em nós; e imediatamente colocaria a manteiga, pensando nas palavras dela e naquele pensamento que se faz matéria viva e fluida.
Em seguida a pimenta entraria sem medida, porque faz arder as entranhas e nos coloca em alerta, ela é mestra nesses itens. E como é importante não perder neste prato as ardências das nossas diferenças, dos nossos impasses e desafios. Sigamos com eles, com ela!
Depois tem o gengibre na medida certa, que suaviza a ardência e cura o corpo, energizando nossas almas. Pois precisamos de sonhar novos sonhos, de fortalecer entre os nossos, de resistir e criar.
E seguiria com todas as ervas que nossos ancestrais nos deixaram. Não nos esqueçamos deles, não nos esqueçamos do que nos dá chão pra seguir e firmar presentes.
Sigo no incremento deste prato …
Quero muito servir numa mesa enorme com toalha branca, Ana na mesa com todo o quilombo junto se alimentando e partilhando saberes e sabores da palavra, do gesto, da delicadeza e dessa força tamanha.