Foto: Ly Cavalcanti
Há muito a cena tá preta
por Anderson Feliciano e Evandro Nunes
Uma Tigresa de unhas negras e íris cor de mel. Uma mulher, uma beleza que me aconteceu. Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu, ela me conta, sem certeza tudo que viveu. Que gostava de política em mil novecentos e sessenta e seis…
Ela bem que poderia ser aquela Tigresa da canção do Caetano. Nasceu no início da década de 1950. No mais o que sabemos é o que ela nos contou sem certeza.
Mulher negra de uma beleza estonteante venceu um concurso de modelo nos anos 70 e fez seu primeiro desfile profissional no Palácio das Mangabeiras.
Ela nos conta que foi atriz, não sabemos se trabalhou no Hair, mas estreou no teatro substituindo Ana Davis. Ainda atuou nos espetáculos: Relatório Kinsey (Olha que tem nós na cama), Orfeu do Carnaval, A incrível Borboleta Azul, No mundo da lua, Teatro Rival.
Das passarelas e dos palcos para o cinema, mas as besteiras de menina que ela disse não.
Atuou nos filmes: Os Inconfidentes – Joaquim Pedro de Andrade, Chico Rey – Walter Lima Júnior e Os condenados – Zelito Viana.
Ainda se enveredou pela culinária afro mineira, colocando no centro da cena gastronômica nossa ancestralidade.
Incansável como uma Tigresa ela, como uma Griot, nos ensina remédios e receitas caseiras que curam o corpo e a alma, além de, com seu olhar sensível, confeccionar jóias e adereços, junto a sua filha Catarina Queiroz.
Não sabemos se ela tem muito ódio no coração, mas que tem espalhado muito amor, sim!
E em breve teremos um novo filme com ela.
Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar …
Por isso e por tudo que Zora Santos, nos faz seguir nessa cena/segunda preta.
Anderson Feliciano é Mestrando em Dramaturgia e Pós – graduado em Estudos Africanos e Afro-brasileiros (2009) pela PUC – Minas, além de Performer e Dramaturgo. Desde 2007 vem desenvolvendo projetos focados nas questões raciais e de gênero. É autor dos livros infantis “A Verdadeira História do Saci Pererê” (2009) e “Era Uma Vez em Pasárgada” (2011). Foi vencedor do Primeiro Prêmio de estímulo a novos dramaturgos promovido pelo Clube de Leitura (Belo Horizonte – 2011) com o texto “Pequenas Histórias de trocas de pernas, peles e olhos nos seus arroubos e arredores” e ainda teve o texto “Antes que Aconteça Muita coisa Pode Acontecer” selecionado para uma leitura dramática no concurso promovido pelo projeto Negro Olhar (Rio de Janeiro – 2011). já escreveu textos dramáticos para companhias de Brasil, Chile e Argentina. Como performance há participados de festivais por vários países da América Latina.
Evandro Nunes é Pedagogo, Ator e Arte Educador. Mestrando em Educação pela FAE/UFMG, 2017. Especialista em Educação para as Relações Étnico-raciais, UNIAFRO/UFOP, 2015.Pós-graduando lato sensu em Ensino e Pesquisa no campo de Arte e Cultura pela Universidade do Estado de Minas Gerais. Fez parte da Equipe de Formadores do Projeto A cor da Cultura, TV Futura/ Fundação Roberto Marinho. Prestou serviço à Associação Religiosa e Cultural de Culto Afro-Brasileiro Ilê de Keto Axé Alafin Odé, junto com a Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte, 2011. Fez parte da equipe de Curadores do 16º Festival de Teatro Estudantil – FETO. Integrou a Banca Examinadora do trabalho de Conclusão de Curso Intitulado “Brincar e Foliar – é so começar: perspectiva de um experimento na implementação de história e cultura afro-brasileira na educação infantil”, UFMG/Escola de Belas Artes, 2016. Preside a NEGRARIA – Coletivo de Artistas Negros/as. Ganhador do Troféu Zumbi de Cultura, categoria teatro, 2015. Há 20 anos dentro da área artística, tem experiência em Atuação, Direção Teatral, Produção Cultural, Coordenação Artística e Pedagógica, além de ser professor de teatro.